Em 12/11/2019 às 16h50
Ricardo Soares*
Semana passada aconteceu na USP, em São Paulo, o primeiro Fórum Internacional de Mídia Alternativa (Fima) que em todas as suas diversas mesas de debate – e apesar de suas diversidades – chegou a um denominador comum: é preciso que as tais "narrativas progressistas" aprendam a se comunicar além de suas próprias bolhas. Ou, em outras palavras, é preciso saber mandar melhor o recado, simplificar ou ser "menos chato" como definiu, curto e grosso, o publicitário André Torretta.
Tenho uma enorme implicância com o termo "narrativa" mas é disso que se trata. Os veículos conservadores ou mesmo os propagadores de fake news e asneiras corporativas e de auto ajuda sabem dar melhor o tal "papo reto" enquanto que a mídia progressista ( mais ou menos esquerdista ou raramente anarquista) fica envolta naquele emaranhado acadêmico de falar difícil e comunicar mal. Aliás, essa foi uma das mazelas do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, que não se reelegeu em 2016 não apenas pela crescente onda anti-petista, mas também porque não soube comunicar as muitas benfeitorias que fez em São Paulo sobretudo nas periferias.
Aumentando o leque pode-se dizer que, em geral, a tal "mídia progressista" é aborrecida, eivada de chavões desgastados e com pouco humor, levando a sério até o que não é para ser levado a sério. Tanto é que foi quase consenso na Fima que o YouTube brasileiro está encharcado de canais direitistas e fascistas que mandam seus torpes recados em flagrante vantagem sobre os progressistas mal humorados. Em suma, o humanismo carece de riso.
Óbvio dizer que diante do triste panorama que vemos em nossas pontes ruídas de cidadania e direitos humanos uma iniciativa como a FIMA é mais do que bem-vinda e deve se repetir ano que vem com melhor estrutura e organização.
Nessa primeira edição conseguiu reunir inúmeros craques da comunicação em suas mesas. Dos professores Laurindo Lalo Leal Filho ao jornalista Glenn Greenwald passando pela "socialista morena" Cynara Menezes a Laura Capriglione, uma das fundadoras do Jornalistas Livres assim como Misael Avelino da Rádio Favela de Belo Horizonte, Lívia Teodoro das Blogueiras Negras (também de BH), Alcely Barroso, da IBM, Luis Nassif, Mônica Bergamo e grande elenco.
O importante, aqui e agora, foram as proveitosas discussões que o Fima propagou e que devem estar sempre em nossos horizontes – a página deles segue aberta no Facebook – para que a escalada de obscurantismo não prossiga e nem se perpetue esse discurso quase hegemônico construído em cima de meias verdades e muitas mentiras. Vida longa ao Fima.